domingo, 16 de fevereiro de 2025

VILLA DEL MARCO DEL JAURU, UM PROJETO DE EXPANSÃO TERRITORIAL BOLIVIANA DO SÉCULO 19.

Este texto é um recorte do livro "NAS SALINAS DO JAURU"
Sandro Miguel da Silva Paula 


Tela: La batalla de Ayacucho, “último monumento para la gloria del Ejército Libertador” https://elhistoriador.com.ar/la-batalla-de-ayacucho-ultimo-monumento-para-la-gloria-del-ejercito-libertador-2/


A Bolívia inaugurou sua vida como povo independente em 1825, frente a três séculos de domínio espanhol, após um longo percurso de conflitos internos que se estendeu por 15 anos, desde 1809. 

Entretanto, havia vários problemas a resolver, dadas suas ligações coloniais com o Peru e as Províncias Unidas do Rio da Prata e uma imaturidade inicial, que dava luz aos caudilhos cujas ambições de poder, criaram uma permanente instabilidade política e social que levou o país a assistir movimentos revolucionários e governos provisórios que caiam frente a sanha da independência.

Em meio aos desafios de organizar a república boliviana, assume ditatorialmente o governo em 1839 o General José Ballivian.

Em março de 1844, Ballivian determina a organização de uma expedição cuja missão era de reconhecer toda a extensão de fronteira da Província de Chiquitos com o Império do Brasil e estabelecer núcleos militares e povoações.

Para comandar a expedição foi nomeado o Prefeito do Departamento de Santa Cruz, o Coronel Fermín Rivero.

Rivero partiu de Santa Cruz a frente de um batalhão de infantaria de 300 praças, comandado pelo Coronel Manuel Franco, de um esquadrão de cavalaria com 20 cavaleiros, comandados pelo Coronel Agustín Saavedra, e de 100 homens da cavalaria da Guarda Nacional dos distintos povos de Chiquitos como guias ao comando do Coronel Sebástian Ramos.

A expedição percorreu o extenso território até chegar as bordas do Rio Paraguai e Jauru, no local onde estava ainda em pé o marco do Tratado de Madri, recolhendo informações da região das Salinas do Jauru, Tremendal, Onças, até alcançar o Corixo Grande onde manda estabelecer um acampamento fixo, hoje a cidade de San Mathias.

“Depois de mil dificuldades, chegou ao antigo marco divisório, sobre a margem direita do Rio Jauru, (...) que deságua no Rio Paraguai. Ali o Coronel Rivero mando escrever em um tronco de árvore – PORTO DO MARCO REPÚBLICA DA BOLIVIA – VILLA DEL MARCO. Continuando suas explorações, Rivero chegou ao ponto denominado “Arroyo del Curiche”, e ali fundou o povoado de San Mathias a uma légua de distância da linha divisória com o Brasil. Cumprida sua missão, o Coronel Rivero voltou a Santa Cruz, deixando na fronteira o Coronel Ramos com alguma tropa, civis e suas famílias”.


Esse jogo de guerra diplomática vai enveredar para as ações militares ordenadas por Ballivian configuradas na expedição do General Rivero a Chiquitos (1844), e no estabelecimento dois anos depois, em 17 de setembro de 1846, de uma povoação ao sul do Marco do Jauru, as margens do Rio Paraguai, com o nome de “Villa del Marco del Jauru”, concedendo benefícios de posse das terras e subsídios aos pretensos colonizadores

Bolívia: Lei de 17 de setembro de 1846.

JOSÉ BALIVIAN, PRESIDENTE CONSTITUCIONAL DA REPÚBLICA, CAPITÃO GENERAL DE SEUS EXÉRCITOS.

Comunicamos a todos os bolivianos que o Congresso determinou, e publicamos a seguinte. - LEI. O Senado e a Câmara dos Representantes da Nação Boliviana. DECRETO:

Artigo 1. - Será estabelecido com o nome de Villa del "Marco del Jaurú", uma nova população para a parte do Sul do Marco, dividindo-se entre Brasil e a República, colocada pelas coroas de Espanha e Portugal na margem direita do rio Paraguai, em sua confluência com o Jauru.

Artigo 2. - O Poder Executivo concederá aos habitantes de Villa del "Marco del Jaurú", os privilégios e royalties que a lei concede aos habitantes de Beni e os primeiros colonos das colônias e reduções: Tomará também todas as medidas que, em sua opinião, sejam necessárias para a cumprimento desta lei. Portanto, ordenamos a todas as autoridades da República que a cumpram e a apliquem. O Ministro do Interior fará com que seja impresso, publicado e distribuído a quem possa interessar. Palácio do Governo em Sucre em 17 de setembro de 1846. - Executar. - José Ballivian. - O Ministro do Interior. - Pedro José de Guerra.


Recorte do mapa da República da Bolivia mandado publicar pelo Governo da Bolívia em 1859 (Mapa completo). La cartografía fue levantada y organizada entre 1842 y 1859 por el Teniente Coronel Juan Ondarza, el Comandante Juan Mariano Mujica y el Mayor Lucio Camacho.


Este ato de criação da “Villa del Marco del Jauru”, abriu as portas para acirrados embates nas câmaras legislativas das duas nações e nas cortes internacionais. Por outro lado, o movimento boliviano na fronteira oeste expos a fragilidade da defesa de um território imenso e rico que o império brasileiro relegava ao ostracismo colonial. 

Independente das tensões diplomáticas nesse período, o concreto é que a referida Vila do Marco do Jauru, não foi construída e ocupada, motivado principalmente pela distância do centro político boliviano, pela precariedade do apoio logístico e pela falta de gente para povoar a região.

Os bolivianos que permaneceram com o Coronel Ramos, foram povoar o vilarejo de San Mathias e as suas cercanias, fenecendo temporariamente o reclame para ocupar as terras, herança dos colonizadores espanhóis.


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

EM 15 DE JANEIRO DE 1754, A 271 ANOS OCORREU O ASSENTAMENTO DO MARCO DO TRATADO DE MADRI NAS BARRANCAS DO RIO PARAGUAI.

Imagem extraída da Revista O Cruzeiro - Edição 034/1953. p 33.
Acesso em 14 janeiro de 2025: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=003581&pasta=ano%20195&hf=memoria.bn.br&pagfis=86684

Partindo da Ilha de Martin Garcia(Argentina/Uruguai) em 02 de junho de 1753, com destino a cidade de Assunção no Paraguai e depois até a foz do Rio Jauru, para assentar o Marco do Tratado de Madri (1750), seguiu as Terceiras Partidas Limites da Comissão Sul do dito tratado.

Uma jornada que demorou 7 longos meses até a conclusão da missão de demarcação do acordo entre os reinos de Espanha e Portugal com o assentamento do marco de mármore nas barrancas do Rio Paraguai em 15 de janeiro de 1754.



Os derradeiros dias do fim dessa jornada descreveremos neste recorte, tomando como referencia o Diário da Terceiras Partidas de Limites.

10 de janeiro de 1754: (...) "As 3 horas e meia da tarde chegamos onde estavam as canoas do Cuiabá esperando-nos defronte da ilha e serra dito, alojadas na encosta ocidental do Rio Paraguai e uma boca que nela servia mais adiante, disse o oficial e práticos de Cuiabá que era o Rio Jauru 



"Havendo trazido a Demarcação até este sitio donde se devia colocar o Marco de mármore que trazíamos foi preciso reconhece-lo, e assim no dia 10 de janeiro pela manhã fomos em uma canoa os dois comissários e cosmógrafos com o oficial que havia vindo de Cuiabá, e navegando rio acima pelo Paraguai a curto espaço chegamos a uma boca de riacho tapada com erva, a qual disseram os práticos de Cuiabá e Mato Grosso que era a boca antiga do Jauru, que mais acima estava a que servia atualmente para desaguar o dito rio no Paraguai. Paramos diante e  entramos por ela, pelo Rio Jauru até duas léguas para dentro a onde achamos  a gente que conservavam suas vacas que havia enviado o Capitão general de Cuiabá para refresco das Partidas. Tomamos Rio abaixo ate o sitio do acampamento, reconhecendo o terreno ou ponta que formão ...


os dois rios ficando toda a boca do Jauru livre para cima ou ao Norte em cujo sitio se devia colocar o marco referido. Porém se achou alagadiço de terra frouxa e baixa que alagam as crescentes, e assim pelo não expor a que se enterrasse ou caísse, não se determinou a colocação nele, senão no mesmo acampamento sobre as ruinas de uma casa, onde viveu alguns anos um Portugueses com sua família natural do Cuiabá. Persuadido por isso, de que estava seguro de inundações. O terreno duro, e em alta barranca, delineou (sic) e entrarão os trabalhadores a tirar as pedras dos barcos a  conduzir pedra para o alicerce ou fundamentos e mais coisas precisas.

O dia 13 de janeiro se foi a reconhecer o Rio Paraguai para cima se achou que a sua margem oriental vê a serrania de S. José, que segue, e a ocidental tem barranca mediana. Sondou-se o rio de fronte da ponte do sul da ilha, e se acharão 20 pés de rey de agua em o braço ocidental que forma a ilha, e em oriental 13, e ao N. dela quando vão unidos, era também o canal de mesmo fundo. Levantou-se o plano geometricamente, tinha o rio de largo desde a margem do acampamento a ilha 117 1/4 toesas, medindo sobre o rumo O.L. E desde o sitio onde se colocava o Marco até a boca nova do Jauru 275 toezas. (...)

Já estava  tão adiantado o trabalho do Marco que o dia 15, pela tarde se concluiu pondo-se a Cruz que o remata, a estrondos de repetidas salvas, e vivas aos Reys, com comum alegria, e gosto.
O dia seguinte disse Missa junto dele o Reverendíssimo Padre José Quiroga e depois de concluída o benzeu.
Ficou colocado sobre um fundamento de pedra e cal de 8 1/2 pés de profundidade, e 8 pés de largo em quadro, e de modo que as armas de Portugal olhão retamente ao N.E. e as de Hespanha ao S.O.
O dia 16 veio uma canoa pelo Rio Jauru abaixo depois de haver deixado no porto, (...) que tem arriba as cartas do Comissário de S.M.F (Sua Majestade Fidelíssima) para o Capitão General que ao presente estava em Mato Grosso.
Depois de tudo isto determinou a volta rio abaixo, que se empreendeu no dia 17 de janeiro."


E assim foi concluída a jornada da Terceiras Partidas de Limites que percorreu o interior da américa meridional para fincar a peça de mármore conhecida como Marco do Jauru.


fontes consultadas: 
do livro Nas Salinas do Jauru de Sandro Miguel da Silva Paula (2025). 
Diario das três partidas de demarcação da América em virtude do tratado de limites ajustado entre as duas coroas de Espanha e Portugal, pode ser acessado no endereço: https://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/20.500.12156.3/268677   

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

HÁ 80 ANOS TOMBOU EM COMBATE NA ITÁLIA O CACERENSE JOÃO INÁCIO DO NASCIMENTO.

Porto do Marimbondo- Cáceres-MT, de 05 de maio de 1944. 

FLAGRANTE DA MEMÓRIA: 
Militares do 2º B Fron, familiares e população cacerense nas despedidas do contingente designado para compor a Força Expedicionária Brasileira - FEB, na 2ª Guerra Mundial. 

Um deles era o soldado JOÃO INACIO DO NASCIMENTO –  Natural de Cáceres – Filho de Antônio Carlos do Nascimento e dona Felipa Perfina de Almeida.  
Faleceu em combate, no dia 24 de novembro de 1944, em Bombiana/Itália, a 80 anos. 

Foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil e Cruz de Combate de 1ª Classe. 
No decreto de concessão desta última lê-se:
“Durante o ataque ao Morro Castelo, no dia 24 de novembro de 1944, portou-se com bravura, coragem, sangue frio e destemor, progredindo com inteligência e audácia, através de fortíssima barragem de artilharia, rumo ao objetivo que lhe fora dado, até ser colhido por estilhaço de granada, que o atingiu mortalmente”. 

LEMBRAR PARA NÃO ESQUECER!